Uma das soluções para despoluir setores complexos, como as indústrias naval e de aço, depende de energias renováveis abundantes no país
Por Redação Climatempo
Os cientistas do Clima são claros ao afirmar que o mundo deve descarbonizar a economia, ou seja, eliminar as atividades que emitem dióxido de carbono (CO2), até meados deste século para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
Hidrogênio Verde: como ele pode gerar empregos no Brasil?
Essa rápida descarbonização seria a melhor chance da humanidade garantir que o aquecimento da atmosfera do planeta não será maior do que 1,5°C (meta do Acordo de Paris) ou pelo menos não ultrapasse 2°C. Hoje o mundo já está 1,2°C mais quente do que na era pré-industrial.
Os combustíveis fósseis e o desmatamento são as principais fontes de gases que causam o efeito estufa que desencadeiam o aquecimento da atmosfera global. Deixar de emitir carbono será provavelmente um dos maiores desafios da humanidade, e muitas estratégias complementares serão necessárias, incluindo a criação de combustíveis não poluentes. O mais promissor deles é o hidrogênio verde.
O hidrogênio (H) é um gás que, quando queimado, gera uma grande quantidade de energia e elimina vapor d’água. Ele está presente em muitas substâncias abundantes, como a água (H2O) e a amônia (NH3). Ele é produzido a partir da eletrólise, um processo que depende do uso de energia elétrica.
O único hidrogênio útil para combater as mudanças climáticas é aquele produzido por eletricidade renovável - água, sol e vento.
Quando produzido a partir de eletricidade termelétrica, o “hidrogênio cinza” acaba tendo uma emissão implícita de carbono maior do que a de combustíveis fósseis comuns, como o gás.
Brasil é destaque
Se é fundamental ter energias renováveis para produzir hidrogênio, o Brasil tem destaque devido ao seu potencial para expansão de energia solar e eólica. A primeira iniciativa do setor no país está no Ceará, onde uma unidade de fabricação de hidrogênio a partir de energia do vento e do sol está sendo construída no Porto de Pecém, em parceria com um dos principais portos do mundo, o de Rotterdam, nos Países Baixos.
Rotterdam planeja entregar 4,6 milhões de toneladas de hidrogênio verde à União Europeia até 2030. Para isso, está fazendo parcerias em todo o mundo, que incluem, além do Brasil, Colômbia, Chile e Austrália.
A ideia de ter essas fábricas próximas a portos tem a ver com o potencial de uso na navegação - um dos setores que mais contribuem para a mudança do clima e cuja descarbonização é complexa. O primeiro navio movido a hidrogênio foi apresentado este ano na França, e deve navegar comercialmente a partir de 2025.
A expansão da cadeia de valor do hidrogênio verde no Brasil pode ser rápida e deve gerar muitos empregos. O Porto de Suape (PE), planeja a criação de uma planta produtora do combustível, com início de fabricação prevista para 2026.
O Coalizão Científica pelo Hidrogênio - a primeira organização científica independente a estudar o assunto e que tem sede na Europa - alerta que o hidrogênio não deve ser visto pelos criadores de políticas públicas ou industriais como um substituto para a eletrificação. Isso é verdade sobretudo no setor de transportes, em que muitas vezes a eletrificação da frota é um caminho de descarbonização mais barato e rápido.
“O hidrogênio apresenta uma oportunidade potencial para descarbonizar setores da economia global que não têm soluções de eletrificação existentes”, afirma a coalizão. “O primeiro setor a ser visado deve ser aquele onde o hidrogênio cinza (feito com eletricidade oriundo de gás fóssil) é utilizado atualmente”. A organização cita como exemplo a produção de fertilizantes químicos e a indústria do aço.
“A primeira produção de aço livre de fósseis já foi concretizada na Suécia. A expansão do hidrogênio verde para produzir aço poderia ser o início do desenvolvimento de um setor siderúrgico mais competitivo e sustentável”, diz a organização.