8 dos 10 municípios que mais emitem gases do aquecimento global no Brasil estão na Amazônia

Nova estimativa do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) foi divulgada nesta segunda-feira (13). Apesar de menos populosa, região Norte do país representa 60% do carbono liberado pelo Brasil.


Por Carolina Dantas, g1



Queimada após desmatamento em Porto Velho, Rondônia, em 2019 — Foto: Fábio Tito/G1


Entre os 10 municípios brasileiros que mais emitem gases do efeito estufa, os causadores do aquecimento global, oito estão na Amazônia — cinco deles no estado do Pará. Os dados são referentes ao ano de 2019, estimativa mais recente disponível para o país, e foram divulgados nesta segunda-feira (13) pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).


Altamira (PA), São Félix do Xingu (PA) e Porto Velho (RO) lideram entre os 5.570 municípios brasileiros. Todas as oito cidades da Amazônia estão no topo da lista pelo mesmo motivo: desmatamento. A região Norte representa 60% de todo o carbono liberado no país.


Municípios e emissões de gases do efeito estufa (dados em milhões de toneladas de CO2e):

  1. Altamira – 35,2

  2. São Félix do Xingu – 28, 9

  3. Porto Velho – 23,3

  4. Lábrea – 23,2

  5. São Paulo – 16,6

  6. Pacajá – 16,2

  7. Novo Progresso – 14,9

  8. Rio de Janeiro – 13,8

  9. Colniza – 13,5

  10. Apuí – 12,5

  11. Novo Repartimento – 11,9


Entre as 35,2 milhões toneladas de CO2e (unidade de medida que reúne todos gases, do carbônico ao metano) emitidas por Altamira, 33,4 milhões estavam relacionadas com o desmatamento. A cidade paraense tem população estimada em 117 mil habitantes, ou seja, é quase 100 vezes menos populosa do que a cidade de São Paulo, mas contabiliza o dobro das emissões.


Se Altamira fosse um país, estaria no 108º lugar no mundo em emissões de gases de efeito estufa, atrás da Suécia e da Noruega. Em 2019, ano da estimativa do SEEG, Altamira foi a líder em desmatamento da Amazônia, com 575 km² de floresta perdidos, e também vice-líder em queimadas, com 3,8 mil focos de calor detectados, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).


A estimativa por município feita pelo SEEG, projeto do Observatório do Clima, organização com mais de 70 representantes da sociedade civil, é gerada segundo as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) com base nos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI).


Mas como o desmatamento libera carbono?

Quando qualquer árvore morre, seja por decomposição ou por queima, ela emite carbono. Para os dados do SEEG, a unidade de medida é a tonelada de CO2, mas a floresta derrubada também emite outros gases: o metano (CH4), que equivale a 25 toneladas de CO2; e o óxido nitroso (N2O), que equivale a 270 toneladas.

"Se a floresta tem 200 toneladas de carbono vivas, e essas 200 toneladas vão oxidando depois do desmate, o carbono vira CO2 e, se está em condições anaeróbicas (sem oxigênio), pode até virar metano", explica Tasso Azevedo, coordenador do SEEG.


É por isso que os municípios da Amazônia apresentam dados altíssimos de emissões por habitante — eles têm poucos moradores, mas muito desmate. Novo Progresso, que registrou o Dia do Fogo em 2019, uma ação coordenada por fazendeiros, empresários e produtores rurais para queimar áreas protegidas próximas à BR-163, tem o maior índice per capita do país: são 580 toneladas de CO2 por ano. A média global anual é de 7 toneladas de CO2e por habitante.

Ou seja: em Novo Progresso, se o dado representasse de fato as emissões das pessoas, e não o desmatamento da região, seria como se cada cidadão estivesse dirigindo, todos os dias, mais de 500 carros por um trajeto 20 km.


São Paulo e Rio de Janeiro

São Paulo e Rio de Janeiro são o ponto fora da curva na lista de 10 municípios que mais emitem no país. As metrópoles apresentam causas diferentes para liberação do carbono: energia e resíduos.


As cidades mais populosas têm no setor de energia sua principal causa de liberação de carbono - que também é o principal motivo das emissões do planeta, representando 76% do total, segundo dados da plataforma Climate Watch.


A capital paulista lidera as emissões no setor de energia com 11,9 milhões de toneladas de CO2e. Apesar de não estar na lista geral das 10 cidades mais emissoras, Manaus é a segunda cidade que mais libera carbono para a produção energética no país: são 7,5 milhões de toneladas de CO2e. Em terceiro lugar pelo setor, está o Rio.


A capital do Amazonas, apesar de ter metade da população da carioca, tem o maior número de termoelétricas do país - causa da alta taxa de emissões. Em momentos de crise hídrica, o governo tende a aumentar esse tipo de geração de energia, que é feita por meio da queima de combustíveis como óleo e gás natural. O modelo é mais emissor de carbono do que o solar, eólico e hidrelétrico.


Já o setor de resíduos - do lixo produzido pelo brasileiro - representa 5% da contribuição do país para o aquecimento global. O Rio é o maior responsável, com 5,5 milhões de toneladas de CO2e — São Paulo reúne mais habitantes, mas tem um aproveitamento energético de biogás de aterros sanitários que reduz o índice na comparação com os cariocas.


Municípios negativados

Um grupo de 11 municípios brasileiros tem emissões negativas. Como isso é possível?

Caieiras, no interior de São Paulo, teve - 1.264 milhões de toneladas de CO2e liberadas na atmosfera. Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), explica que essas 11 cidades têm aterros sanitários que, além de receber resíduos de outras regiões do país, ainda utilizam as emissões para a produção de energia.


"São municípios que têm aterro sanitário e que recebem resíduos sólidos de outros municípios. E, por outro lado, eles aproveitam o gás metano que é produzido nesse aterro sanitário. Então, na verdade, é uma questão de cálculo: a emissão está contabilizada na cidade da produção do lixo, mas o aproveitamento fica contabilizado na cidade que recebeu o resíduo", explica.


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